quinta-feira, 31 de março de 2011

a porta

 

Quem esta à porta?
Quem bate à porta?
                  Alguém abre a porta?
Quem se esconde por detrás da porta?
Que está para lá da porta?
… que importa!…
Dois mundos 
separados por uma porta…

Porta de vidro ou com vidros,
transparente;
porta aberta ou fechada,
porta natural;
porta de gente,
porta quente
de madeira,
multicor, de uma só cor,
porta da esperança…
ou de sangue!
Porta de ferro,
fria e com gonzos,
com fechadura ou sem chave,
com número ou sem nome…
Porta baixa, alta,
para o rico e para o pobre,
porta estreita, larga, 
meia porta,
porta inteira, de duas folhas,
porta antiga ou velha,
porta nova,
portal sem porta…

Porta de homem
ou de mulher?
Porta da noite
e do dia.
                        
Porta dupla
onde passam lado a lado
o ontem e o amanhã…
Porta dourada,
porta de templo, do reino,
porta de gaiola…
retiro ou prisão.

Porta lisa ou rugosa,
com almofadas (e sonhos…)
e uma caixa de correio…
Porta seca, molhada,
inchada, envergonhada,
com desenhos redondos,
losangos bicudos,
pregos ponteagudos,
ao lado de uma campaínha…

Porta exposta ao sol,
à chuva, ao vento,
porta resistência,
porta ponte, ou barreira,
porta útil,
até mesmo porta falsa…

Porta imaginária,
fantástica magia
de atravessar a porta,
ou espreitar
pela fechadura da porta…
depois,  abrir de par em par
a porta que guarda  o segredo,
porta da revelação…

Porta para o escuro
(ou para o nada)
ou aberta ao futuro!

E quando alguém bate à porta,
poderá ser…                       
… a vida, a morte,
ou talvez Deus…

Porta do carro,
frenesim;
do armário, do cofre,
porta de casa,
porta de não ou de sim…

Postigo, portinha,
porteira, portela,
portinhola, comporta,
porta, portão.
Porta do sol ou do céu,
do infinito,
porta do paraíso…

Por momentos fecha a porta,
(intimidade…)
Abre a porta, por favor!…
à liberdade…
Porta minha,
de paixão,
porta de tudo e de nada.
Porta do teu coração.


quarta-feira, 30 de março de 2011

nocturno

soltam-se tinta e caneta
luta a mão com outra pena

entorpecida sonolência
de palavras e cartas     

incompletas      as pálpebras
descaem folhas entre os dedos  

sonâmbulos

entregam-se os corpos
e abraços aos sonhos

semeados      cama cheia
de história e de livros

entendimentos de amor
de toda a hora reinventados

segunda-feira, 28 de março de 2011

Neruda




"Yo soy el que fabrica sueños
y en mi casa de pluma y piedra
con un cochilo y un reloj
corto las nubes y las olas,
com todos estes elementos
ordeno mi caligrafia
y hago crecer seres sin runbo
que aún no podiam nacer."


          Pablo Neruda



Escultura em madeira de Eduardo Martins, réplica de uma figura de proa de navio que se encontra na Casa Museu do poeta Pablo Neruda, na Isla Negra, Chile

domingo, 27 de março de 2011

a escola


não me lembro da tua escola,
por lá andaste e te fizeste homem,
nem sei se te vi na minha escola
homem feito andavas vida fora.
certo dia bateste à porta
e deste-me uma caneta de cores
que trouxeras da viagem,
da escola da distância.
sem entrares na sala de aula me ensinaste
que um mundo tem mais cores e caminhos
que quantos um mapa pode deixar ler,
que as notas de música 
também contam histórias,
que a escrita tem mais sentidos
que quantos eu possa imaginar.
hoje tenho lápis, canetas e cores,
ferramentas preferidas do meu mundo,
desde o dia da oferta da caneta 
que trouxeste de lá, onde se aprende a vida.
  
por isso te escrevo.

tens um poema ?

 
trago sempre um poema
comigo ou no bolso
na voz ou no horizonte.
normalmente um poema
normal cheio
de perguntas e respostas.
quanto dele será meu
ou teu ou do alguém
que escuta e responde?
fico à espera...
de um poema 
do teu 
poema
de ti

sábado, 26 de março de 2011

escrita



do formão fazes caneta,
da tábua, folha sedenta,
nasce do tronco um poema,
golpe a golpe, letra a letra,
que no fim soa a soneto.

nos meus poemas limo arestas
usando esta madeira e estas mãos,
o tempo irá trazer a lume e dará cor
à voz macia que o poema encorpa;
da madeira-matéria escolho a forma
risco, desenho e deixo sossegar.

madeira, raíz sã,
palavras do coração
fruto das mãos.

sexta-feira, 25 de março de 2011

artamarte


 
artamarte         arte_d'arte 
 dar-te de_arte


e outros tantos verbos de amor e criação terminados em art ou
actos de vida com art pelo meio
paixão vulcão mão e gesto novo
coisas da madeira e do sol
na infância de qualquer hora


   artamartearte_dartede_arte 

quinta-feira, 24 de março de 2011

OS SONS DA ARTE E DO SILÊNCIO 11

 

OS SONS
DA ARTE
E DO
SILÊNCIO

"Menina"

Escultura de  
Eduardo Martins

quarta-feira, 23 de março de 2011

livro


aquele
que um dia as tuas mãos irão ter
em teu olhar será revelado
o segredo que ele guarda outro segredo

aquele
que lês mas dificilmente entendes
a história que traz a outra história
que o autor nem sempre te contou

aquele
que em sonhos escreveste só
por isso ainda é livro de sonho
mesmo que não haja um palco para ele

aquele
que afinal viveste anos fora e
foste rasgando folha a folha
deixada aqui e além nos teus cem anos

aquele
o outro e outro mais sempre os mesmos
reescritos relidos esquecidos reinventados
nas páginas que abriste e folheaste

aquele
cruzado noutro texto lado a lado
outro aquele outro livro tanto livro
que amanhã quem sabe será lido

aquele
de que tu gostas e outros gostam daquele
jeito de quem pela primeira vez lê
e se apaixona.

por um livro

terça-feira, 22 de março de 2011

"o seu nome era Maria"



Na celebração do DIA MUNDIAL DA POESIA e comemoração do DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES foi apresentado o livro "o seu nome era Maria", poema de João S Martins, com ilustrações de Ivone Martins, Carol Martins, Carlos Martins, João P Martins, Fernando Silva. 23 de MARÇO - PISC - Portuguese Instructive Social Club, Elizabeth, NJ.

OS SONS DA ARTE E DO SILÊNCIO 10


OS SONS
DA ARTE
E DO
SILÊNCIO
  
Sons Arte Silêncio Mãos Madeira Carinho Raízes  

Muito dirão tais palavras de alguém que sempre amou a família, a escultura ('os bichos'), a música; que sempre acariciou os filhos, um instrumento musical, o trabalho e os seus trabalhos, as madeiras das suas esculturas, como se de “filhos” se tratasse.

Mais me transmitirão tais palavras sobre o meu Pai, Eduardo Martins, por tudo quanto nelas e com elas a mim e a todos ensinou.

Com as mesmas palavras pretendo, neste “livro aberto”, homenagear o Pai, o Homem e o Artista, o “Senhor dos sons, da arte e do silêncio”, o "Artesão das Mãos Verdadeiras", juntando-lhe outras artes de amigos e familiares.  Daí esta séria de imagens de esculturas que ele foi criando e acarinhando ao longo dos anos, das muitas que se encontram espalhadas pelos sete cantos do mundo... Este blogue foi criado a pensar nele, na sua arte, nas artes, nos amantes das artes.

A quantos possuem e admiram as peças de arte do “Senhor Eduardo” , que as queiram partilhar nesta página electrónica, peço que por e-mail me enviem fotografias das mesmas (joaomartins54@aol.com), que com alegria as divulgarei. Antecipadamente agradeço a cortesia, a divulgação, os comentários e visitas a estas páginas! 

OBRIGADO!

segunda-feira, 21 de março de 2011

OS SONS DA ARTE E DO SILÊNCIO 9


OS SONS
DA ARTE
E DO
SILÊNCIO




Profissões -Esculturas de Eduardo Martins

domingo, 20 de março de 2011

Troncos das nossas raízes

OS SONS DA ARTE E DO SILÊNCIO 8

OS SONS
DA ARTE
E DO
SILÊNCIO


 
Profissões - Esculturas de Eduardo Martins

sexta-feira, 18 de março de 2011

cantos das estações e da viagem



   
  no meu (re)canto eu vos canto
     no vosso canto me encanto
     e vos escuto em meu canto





"... era um outono-inverno sem data nem guarida
nas noites longas, serões semi-eternos
escrevemos diários de viagens
em silêncio, telegramas de invenção;
havia também um bilhete de ida e um selo, 
um envelope mistério sem carimbo ..."


   

Ao Pai e Mestre d' OS SONS DA ARTE E DO SILÊNCIO

quinta-feira, 17 de março de 2011

SALA DE VISITAS 5 - As ondas do fado



há um fado em cada esquina
em cada esquina da alma
há uma esquina em cada alma
que canta um fado...

há uma esquina em cada verso
na voz redonda de um fado
cantado de porta em porta
que se abre à alma

há um fado entre alma e alma
um gesto da alma à janela
escuto a voz da saudade
alma do fado


 Guitarra portuguesa - Alberto Resende                                                                  

terça-feira, 15 de março de 2011

OS SONS DA ARTE E DO SILÊNCIO 7

Escultor Eduardo Martins
OS SONS
DA ARTE
E DO
SILÊNCIO
      
   e disse:

quero escrever um texto livre        
em que ele próprio livremente
diga o que ele sente e eu sinto
sem me prender inutilmente
ou eu nele me sentir preso
ou dependente
que me respeite e que parta
novamente para ser lido …

fez-se silêncio. agora. livre. 

e sorriu !...
  

SALA DE VISITAS 4

ferry street ferry street ferry
os meus filhos nasceram aqui. eu nasci aqui

porque eu nasci muitas vezes.

atravesso a ferry street. comigo, a minha memória
atravessa a ferry street.

sou feito de sangue e de memória. as palavras
pararam dentro de mim. as palavras misturaram-se
comigo.

portugal dito em inglês. a estrada que chega e
que parte da minha terra, dita em inglês.
memória: my mother, her fingers touching my
face, her lips saying words: filho

atravesso a ferry street. comigo, a minha memória
atravessa a ferry street.

portugal. sou feito do teu rosto. nascemos juntos.

memória: my country, my trees and my eyes.
my blood.

atravesso a ferry street. comigo, portugal                                                                   Poema de José Luis Peixoto
atravessa a ferry street.                                                                                       Pintura a óleo de Fernando Silva

os meus filhos nasceram aqui.
eu nasci aqui.
eu nasci muitas vezes.
street ferry street  ferry street ferry streetferry street ferry street       

domingo, 13 de março de 2011

poema marinheiro



o ler me embala e quase adormeço
na corrente do poema feito barca
baloiço caravela ou moliceiro
que isto dos barcos tem seu nome próprio
capitão de fragata emoldurada
mais logo remador de bergantim
arrais ao leme contra-mestre sargaceiro
recolhendo as algas de adubar o verso
rima ruma rema sopra os panos
onde escreve com espuma e maresia
poemas de amor por navegar
nas linhas sonhadas uma a uma
luz e sombra recortados no poema
poente lua cheia madrugada
neblina da manhã da criação
um quase deus em gesto de barqueiro


sábado, 12 de março de 2011

SALA DE VISITAS 3



groselha e outras palavras


numa folha branca podemos
Groselha de Tifany Hufford
escrever quase tudo... a luz e
o coração e a groselha

esse fruto vermelho de sabores
antigos que ferve e semeia viagens
de pombas em revoada

podemos escrever as mãos e
a esperança tanta quanta
a tinta que a caneta verte

na memória do meu corpo
minha palavra desejo
saudades de percorrer

os mapas desenhados
sulcos regados a sal e sol
vales onde corre leite e mel

numa folha em branco podemos
escrever quase tudo... tudo
por inteiro


sexta-feira, 11 de março de 2011

OS SONS DA ARTE E DO SILÊNCIO 6

Dos ecos das flautas dos pastores terá herdado o prazer dos sons. Só as fotografias religiosamente guardadas tornam presente essa primeira fase da grande paixão pela música. De aprendiz  de solfejo, primeiro clarinete, até ‘mestre da música nova’ foi um salto quase meteórico. Era realmente a paixão… Balanço difícil quando confrontado com outras paixões? Quem sabe!… Já se vai distanciando essa época por entre as histórias contadas das festas da Santa Cruz ou de outras vizinhanças, o apreço e o respeito de quantos se lhe seguiram nas mesmas andanças (...)
Instrumento musical construído por Eduardo Martins  

quarta-feira, 9 de março de 2011

A plataforma - um poema, um conto


        
        Olho à minha volta na plataforma cinzenta, longa e insensível como as horas, as madrugadas e os dias, e há vultos que não distingo; é a neblina arreliadora de mais uma manhã fria que não deixa alcançar mais longe e definir as figuras; não passam de sombras inconclusivas, que não sei a quem atribuir, se à difusão das imagens, se à minha vista já gasta de tanto procurar por entre a luz. 
Sinto-os deslizar e sofro-lhes os efeitos dos ventos que provocam e, ainda que se tenham feito anunciar à distância, mais do que vê-los, pressinto-os passar, longos, a correr, até pararem gemendo de cansaço, choros de premonição de um destino ignorado. De imediato o burburinho que se instala é cortado pelos barulhos de portas automáticas que se abrem e fecham. Muitos dos que esperavam acabariam por entrar, também eles autómatos. Movimentação unilateral, já que não se dá pela saída de quem quer que seja. São os comboios da viagem… na estação, nesse engolir constante de passageiros e destinos, preparados para outras paragens, mais adiante…
(...) 
Esta procura dos poetas em todos os lados  fora substituída pela busca dos homens, por aqui e por aí, também em todos os lados, quem sabe se os mesmos…
A viagem nesse comboio vivo adquirira sentido novo nas horas do silêncio numa carruagem comum, entrecortado aqui e além pelos encontros com muitas outras carruagens de outros tantos comboios que, em linhas paralelas... ... ...

          E se eu amanhã viajar, talvez então tu me encontres!


In “A plataforma – um poema, um conto” - 2005