sexta-feira, 31 de agosto de 2012

a gramática

mãos com palavras
em construção:
das vogais abertas aos nomes
na ponta da língua dos dedos
consoante os lápis da vida
desenhada na esquadria
dos pronomes nos versos
nos adjectivos nos gestos
nos verbos de acção

   (mãos sonoras da fala
   dos gritos e gemidos húmidos
   em silêncios auto-falantes)

ao ritmo da sintaxe imprevisível e
(in)explicável dos poemas

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

esculturas "de ver as mãos" - 5. mãe do mundo


não importa continente
latitude ou côr de pele
não há quem mude ou
que elimine o sonho !

terça-feira, 28 de agosto de 2012

o último leito

 

 















o último sono
o último descanso
o último leito
o colo da mãe

           
                 (escultura em progresso)

domingo, 26 de agosto de 2012

esculturas "de ver as mãos" - 4. miguel

 




era um anjo de olhar vivo
miguel assim o chamavam
vestes de fogo e uma espada
asas despertas dos ventos:
o saber das visões do mundo

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

re(a)cordar a memória



lembro-me e reacordo
aqueles momentos antigos
este e aquele e outro e outro

momento em que não tínhamos tanto
saber ou dinheiro ou poder
nem julgávamos assim tão importantes
para nós mesmos (?) e para os outros

éramos mais leves
porque não nos carregávamos 
tanto

somos pesados
e apenas sentimos o corpo.
pelo caminho espalhamos as penas
longe vão ficando as asas

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

esculturas "de ver as mãos" - 3. pedro e o lobo



pedro e o lobo, os lobo e os caçadores, ou os caçadores e pedro
por onde andarão o passarinho, o gato, o pato, o avô ? e o lobo?
e regresso à doce infância no poema musical de Sergei Prokofiev

terça-feira, 21 de agosto de 2012

esculturas "de ver as mãos" - 2. Sancho e quixote


 







 
porquê? Sancho
terá que vir sempre
na peugada de quixote?

domingo, 19 de agosto de 2012

esculturas "de ver as mãos..." - 1. Mãe da torga


A pedido de vários amigos, inicio hoje uma série de imagens com algumas esculturas da minha colecção, umas centenas de frutos da recolha de alguns anos. Algumas serão mais antigas que outras.
Todas elas têm uma história, em comum têm o material, a madeira, alguma idade, a arte dos autores, a possibilidade de nelas "ver as mãos" de quem as trabalhou e criou.
O nome atribuído é da minha escolha. Em muitas delas, sem muitas palavras, só as perguntas que elas nos colocam. Teremos respostas?

     da torga, da urze, das raízes, das mãos, 
entre sombras nascem filhos, nascem mães  

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Noite de Música Portuguesa e Poesia

  
FERRY STREET 
RUA DA PALAVRA
Sábado – 25 de Agosto, 8.00 PM



FÁTIMA SANTOS * DAVID COUTO * DIANA MENDES * JOSÉ LUIS IGLÉSIAS * CESAR GARABINI

Vinhus Restaurant and Lounge
157 Westfield Avenue, Roselle Park, NJ

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

nas margens do rio de outra babilónia


 
sentado numa pedra via águas correntes
e quando menos esperava via
nascer poemas nas margens dos rios.
é nos rios que navegam os poemas
colhidos nas margens tantos
poemas à margem da água que rega
e gera poemas e rios contidos
nas margens poemas invadidos.
nos campos onde crescem e se colhem
os poemas o coração transborda
para as margens e a espuma dos rios
e os poemas frutos maduros
seguem o caudal da água até ao mar
até  mais longe até à vida.
na época fértil os poemas-peixes
sobem à nascente e multiplicam
os versos fecundados de vida
e fazem a rede que liga o rio
da nascente ao mar às margens.
nas linhas nas malhas nos nós
das letras em palavras-barco tecelão
de agulha caneta feita mastro
ciclo de marinheiro aprendiz
nascido nas margens viçosas
onde cresciam ervas flores
e versos e à beira-rio onde
cresciam violetas ao comprido
           
          In: "quando menino eu lia...", João S Martins, inédito

sábado, 11 de agosto de 2012

objectos de procura e de memória


1.

pedra madeira luz papel
tudo objectos de procura
mas era folhas que eu queria
linhas quadradas ou brancas
queria que tu me lesses
o que a voz não escrevia

2.

memórias são lembranças da
eternidade a não perder

lia nas páginas do consciente
o que furava o solo e vinha
à superfície.
e repetia repetia
por fuga ao esquecimento
antes que as águas que escorriam
lavassem a escrita
queria que o tráfico não andasse
e as ideias parassem por instantes
para poder escrevê-las

só teve tempo de juntar algumas letras

3.

sou do tempo
da língua de copérnico
quando se trata do movimento
dos corpos não é mais o umbigo
o centro mas a luz 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

a persiana 2


quem me espreita na distância?
quem me lê entrecortado?
quem na terra da abundância
rouba a luz?

quem por dentro me resguarda?
quem serás tu que eu não vejo?
entre a sombra desenhado
que dirás?

quem me olha do outro lado?
quem me projecta na sombra?
que pretendes esconder
na escuridão?

há palavras protegidas
há segredos estreabertos
nos espaços inquietos
das persianas

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

a persiana


as janelas da poesia
ora abertas ou semi
deixam entrar ou sair
luzes e sombras
paralelas como as lâminas
que cortam as palavras

em fatias horizontais
mais fácil é comer
torradas cúbicas
que ajustar as alturas
dos sentimentos
que transportam

e quando as persianas
são feitas de pestanas
palpebras e olhares
quem controla a abertura?
quem apaga o sol?
quem puxa o cordão?