" Hoje, depois de ter voltado a pintar, ao fim de tanto tempo (pressinto mais de quinze, tão longe me encontro e revejo nos anos), senti a vontade do regresso aos tempos de criança: voltar a brincar com a lama nas poças densas de água e pó, bater com as botas no charco e ficar com os pés, as mãos e as calças sujas… sentir o prazer de amassar a matéria com as mãos, sentir-lhe a viscosidade, a plástica, renovar o prazer de dar forma, criar marcas na lama do caminho ...
Voltei a tentar e tenteei voltar a pintar para além dos óleos, essências, corantes e diluentes; manusear agora para além das formas, dos tons, das sombras, da luz, dos riscos e dos espaços, prolongar estes para lá do rectângulo de uma tela, campo definido mas explosivo nas portas que entreabre e nos percursos que deixa antever. Nas essências dos óleos, por entre os riscos, os corantes e as sombras, não serão diluídos os sonhos…
E senti-me cada vez mais criança. Riscar, espalhar, colorir, ganham agora um sentido novo nas palavras, desenhos, letras, pontos e espaços a abrir... E ver a palavra crescer… "
In: "Exercício de Pintura" - João S Martins, 2001
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