terça-feira, 31 de julho de 2012

histórias...















quantas novas histórias todos
os dias cruzam o mundo.
quantas nascem  junto à porta...

mesmo a meio da viagem
há lugar para uma casa!


Arte de Fernando Silva                    

domingo, 29 de julho de 2012

quando menino eu lia e ...


talvez gostasse  de ter sido carpinteiro
de outros artefactos mesas cadeiras
móveis camas braseiras de aquecer
arcas de guardar outros valores.
sonhei esse gosto antigo de recortar
e desenhar figuras e mãos...                 (elas outra vez)
que me acariciassem que eu faria
polidas e coloridas tal como as palavras
que recortava cortava em duas
e colava juntava e dava
sentidos novos sentidos possíveis
com a mesma destreza
com que meu pai usava a plaina
ou a lixa para as tornar mais belas
tábuas mesas mãos palavras

gostaria de ter o dom dos artesões
carpinteiro costureiro pintor
de madeira panos papéis
que por enquanto são feitos
quase somente de palavras
as que tu me dás
as que eu embalo acaricio costuro e
uma vez mais  lisas e brilhantes
verto e devolvo.

quisera ser madeira
       tinta risco pano e som


In: "quando menino eu lia...", João S Martins, inédito

quinta-feira, 26 de julho de 2012

quando menino eu lia... lia e escrevia


agora escrevo e leio escrevo escrevo
e se antes lia para devorar as ideias
ou escrevia para matar as saudades ou
mais tarde publicar se alguém lesse
hoje é o prazer de brincar com as palavras
esses brinquedos tão sérios dos tempos
em que eu menino lia tais palavras

e tal como outrora quisera ser pintor maior
agora fazia desenhava palavras e imagens
ou músicas de sabor e forma diferente 
a coleccionar o mais o muito o antigo.
regresso à escola da criação
a esculpir formas e figuras e mãos
e nelas ver a alma de quem as informa.
corto colecciono e afago ferramentas
letras madeira parágrafos e sonhos
como filhos que também o são.

e há escritas e leituras noite fora ou
a meio de um sono que desperta incomoda
e agita as perguntas na caixa
onde o pensamento as guarda e faz
colheita das promessas uma a uma:
regressarei em círculos de palavra
poesia música pintura fotografia
que não desdenho nem deserdo
antes anseio e sonho.

In: "quando menino eu lia...", João S Martins, inédito

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ferry Street RUA DA PALAVRA


                                      Arte de Fernando Silva

"Ferry é nome de rua, minha e nossa,
é nome da casa das palavras que invadem a avenida em tons de festa"

domingo, 22 de julho de 2012

poeta maior


"Yo soy el que fabrica sueños
y en mi casa de pluma y piedra
con un cochilo y un reloj
corto las nubes y las olas,
com todos estes elementos
y hago crecer seres sin runbo
que aún no podiam nacer."

          Pablo Neruda

quarta-feira, 18 de julho de 2012

NOITE DE MUSICA PORTUGUESA E POESIA

 Noite de Música Portuguesa e Poesia e apresentação do projecto
FERRY STREET RUA DA PALAVRA -Sábado – 28 de Julho, 8.00 PM
FÁTIMA SANTOS . PEDRO BOTAS . DAVID COUTO . DIANA MENDES 
 JOSÉ LUIS IGLÉSIAS . CESAR GARABINI
  Vinhus Restaurant and Lounge - 157 Westfield Avenue, Roselle Park, NJ 07204

segunda-feira, 16 de julho de 2012

"o almanaque dos escritores"


na rádio um poema lido
com voz intimista de circunstância:
dois colegas de escola
este bom em matemática literatura
filosofia poesia e outras artes
visuais e auditivas
terra a terra sensíveis.
aquele dedicado à ciência física
e química com apetência para outros voos
menos íntimos pouco lúdicos
nada estéticos. aquele publicou textos
e cartas de amor com o mesmo intervalo
com que o segundo oferecia
bombas de misericórdia
assim ele dizia os útimos desejos
vistos lá do alto aos que num ápice
iriam ser sacrificados em nome
de uma ideia uma cultura um deus.
o dele
nunca o deles.
alucinação contagiante fantasia
egocêntrica

nadava o primeiro entre livros
e folhas de água calma no lago
repousado de orlas claras
em balanceadas linhas sensíveis
cores de repouso e criação
alheadas das outras cores
de fogo sons relâmpagos
explosões de terror insensível
às erupções interiores
das consciências

parei o carro à beira da estrada
desliguei o motor e entrei
neste pequeno oásis de tempo
sem muros. só os desenhos
no jardim canteiros e arbustos
continuei a escutar ...
entre dois lados contrários
há sempre um terceiro ponto de vista:
chamar-lhe-ão alguns verdade
direi talvez: caminho. o meu.

e todos os dias às sete horas
e trinta minutos de cada tarde
a mesma voz circunstancial
alinha datas recorda efemérides
e lê um poema do almanaque
que eu gostava
ter escrito

In: "quando menino eu lia...", João S Martins, inédito

sexta-feira, 13 de julho de 2012

quando menino eu lia... 2


quando menino falava e eram já                       
                    algumas as palavras as falas que sabia             
ainda antes de saber falar antes ainda
das sílabas usava palavras de andar
palavras agarradas às saias da mãe
às cadeiras às pernas das mesas
ao colo dos tios palavras que dizia
mesmo sem falar. davam-me palavras
que guardava nos bolsos de falar
davam-me doces que eu comia
palavras rebuçados que saboreava
ou guardava e poupava
para saborear e usar mais tarde.
se tinha demais também oferecia
e trocava para aumentar o meu tesouro
de chocolates palavras doces.
e a minha colecção de iguarias
cresceu e fui juntando e juntando
muitas palavras guardadas
saíam dos bolsos como brinquedos
para os meus jogos de menino
com os amigos e vizinhos da minha rua
onde havia muitas palavras soltas
que eram de todos. e como os cromos
dos jogadores de futebol e dos ciclistas
trocávamos para aumentar a nossa
caderneta colecção de cromos e palavras
e havia palavras para todos
palavras de todos para todos
palavras com um amanhã

                   In: "quando menino eu lia...", João S Martins, inédito

terça-feira, 10 de julho de 2012

quando menino eu lia ...


menino menino lia...
e visitava o coração esse enorme
vão de escada biblioteca onde
cabiam todos os livros sem idade
ou com idade de meninos ou graúdos
todos os livros  de amor
e outras escritas da alma
espalhando folhas soltas
pagelas de olhares de menino
o mesmo que em menino lia 
palavras. palavra de menino



In: "quando menino eu lia..." - João S Martins, inédito     Arte de Fernando Silva                                               

terça-feira, 3 de julho de 2012

vice-versa


chegará sem dúvida o momento
inevitável, em que eu ou tu estaremos
na sala, sós, olhando literalmente
para a janela uma das muitas janelas
de ontem, ou do amanhã entreaberto.

e eu lerei para ti, ou alguém virá ler
para mim, a tua carta ou um qualquer jornal.
a voz será mais importante e suave
que as notícias ou os resultados
dos políticos ou dos concursos desportivos.

se for dia dos teus anos cantarei,
ou se for o meu aniversário dirão:
parabéns (pela longa vida?) por tudo
quanto a idade permitiu fazer
ao longo dos dias de inverno mais curtos.

                                           (...)  depois…
vamos cortar só para nós dois o bolo e
saborear. tu lês e eu escuto e, num sorriso,
dirás para mim: parabéns e eu direi
muitos anos de vida. adormeceremos então

ou vice-versa…