2012
Votos de um bom Ano com saúde,
paz, muita poesia e... mãos amigas!
Mas uma estrela dianteira
Arde no céu, que regala!
A palha ficou trigueira,
Os pastorinhos sem fala.
Dá-lhe calorzinho a vaca,
O carvoeiro uma murra,
A velha o que traz na saca,
Seus olho mansos a burra.
Já as janeiras vieram,
Os Reis estão a chegar,
Os anos amadurecem:
Estamos para durar!
Abride a porta ao peregrino,
Que vem de num longe, à neve,
De ver nascer o Menino
Nas palhinhas do preseve.
Vitorino Nemésio
que dia é hoje? talvez ...nem acredites se eu te disserque o fim está pertodeste mês – e dito assim -pela manhã pensei falar-teo que a noite reservava(distraídos na rotina)quando ninguém dá por nada;mas ao e-mail, não respondeste,o telefone tocava e ninguémdo outro lado da linhaestava frio e esperavapalavras que se aquecessemna caneca de um caféfumegante. correio não havia.segui no barco para o outro ladodo rio, a grande cidademesmo da cor do café,era mais fria que escura.vagueei. dormi. sonheicom um postal deixadona mesa, nessa manhã:carimbo de Natal (a cidade ?)Feliz (o resto inelegível)tentei adivinhar a data(apenas 25) deixei o restoà fantasia tentandoacreditar que me desejavas oume enviavas festasfelizes!... Afinal, nessa cidade,não nevava e era verão...a ceia já estava fora de horasmas sempre a tempo de reaquecercom um fiozinho de carinho.foi isso que tentei escreverno bilhete de resposta: se não for antesver-nos-emos no ano que vem.ano novo? sinto que aindapoderei chegar a tempoda lareira e das filhós.
É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
Pintura: Fernando Silva - Poema: David Mourão-Ferreira
Outra que eu souber será pra ti
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme quinda à noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer
Zeca Afonso
António GedeãoMas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
àquele homem de guerra oculta pela calma:se cais pela justiça alguém pela justiçahá-de erguer-se no sítio exacto onde caístee há-de levar mais longe o incontido lumevisível nesse teu olhar molhado e tristeNão temas nem sequer o não poder falarporque fala por ti o teu olharOlhei mais uma vez aquele rosto. Era Natalé certo que o silêncio entristeciamas não fazia mal, pensei, pois me bastara olhartal rosto para ver que alguém nascia.Amanhã, amanhã é outro dia!
Ruy Belo
És meu irmãoNatal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasceuma vida a amanhecer
Natal é sempre o frutoque há no ventre da Mulher
Ary dos Santos
Escultura de Eduardo Martins
Constantino Alvesos enfeites, os sorrisos, as ofertascremam-se os calculismos e as violências
sagra-se um corpo de meninoadocica-se as mãos no esmeroasseia-se o relicário da bondade
o tudo monstro esperae nos bolsos ficará a magia renascida
por uma vez no anoe ano após anoo natal outra vez
Era tarde, quase noite de Inverno e da vida, e a primavera já se fora; parado na encruzilhada, à espera do sinal e da luz, ele lá estava…
a dor que anda na noitede quem não esquece o que erasentir dor e só esperaque um dia me recordes
enquanto me viro e voltoa deitar para o lado soltodeixo que a dor adormeçanoite fora e eu não esqueça
que juntando amor à dorà espera que seja diatalvez encontre na doruns instantes de alegria
a ferry street não pára
não há feriados nem folgas
só há sábados e domingos
e muitos dias de semana
dia a dia nela passam
os cansaços as pernas dos sonhos e as férias
que os aviões sobrevoam
as montras reflectem
rostos e imagens do longe.
sem salas de cinema a ferry
é uma sessão contínua
de passos e momentos
de adeus nuvens e beijos
um comboio lá ao fundo
e corações e países
ferry street... o que me dizes? ... a quem o dizes!...
se tu me lesses à noite
escutarias as vozesabafadas num lençoltenho palavras mudasque só os olhos escutampara que o som não se esvaiauma imagem um corpo são bem mais.
não acredito nessas mil palavrasque ensurdecemuma imagem (escrita)vale mais que as palavrase todos versos mal ditos
ainda assim fala ... fala-me
se o vento ou as folhas de ontem
me tivessem dito que as mãos
as minhas e as tuas correriam
nas matas tocando troncos e ramos
talvez os meus olhos rissem
de surpresa incrédulos de júbilo.
hoje rio no teu riso e há um rio
nas tuas mãos fecundas que sorriem
nas minhas que não estão orfãs.
tantas vezes nossas mãos percorreram
os caminhos das estrelas lado a lado
as vejo juntas com a madeira.
e assim serão mesmo que troncos
ramos folhas e dedos viajem para lá
onde as raízes hibernam e dormem
as flores das novas estações.
tinha uma rosa meninana lapela do casacose a olhava sorriasonhava e adormecia...
tinha a rosa desfolhadano bolso do meu poemapor falta de luz secarapela muita água chorada…
a mesma rosa meninafalava com os meus botõesda lapela até ao bolsonuma viagem sentida.
talvez não tenha direitoa uns minutos de famanas notícias dos jornais.é uma rosa colorida
no meu casaco poema