aos que caminham

da língua e da palavra

fazem festa ou dor

peregrinação

vela de esperança

os muitos que caminham

o vento e o tempo

à porta do dia

ou da eternidade

no instante de mais um ano

que a poesia seja a chave

poemas de café

uma chávena

um golo

um pires

têm mais páginas

que um livro.

história de viagens

das raízes à boca

Noite de Natal 1

nessa noite em que os poetas

soltam palavras bonitas,

escrevem votos e ditos

em letrinhas redondinhas,

recitam autos e quadras,

lêem trovas, redondilhas,

e são capa de jornais

ao fim de trezentos dias...

nessa noite sem fogueira

mas com lareiras a gás,

as palhas e os animais

de uma choupana gelada

fazem parte de uma história

à volta do polo norte,

onde circulam postais

repletos de ideias ricas...

                                     (aguarela de Ivone Martins)

Noite de Natal 2

nessa noite de poesia,

de palavras e desejos,

em que o verbo ainda vale

pelas acções que anuncia,

abraços soltos aos molhos

sarapintados de beijos,

nas memórias de criança

sinto-me tão pequenino

vou para a cama mais cedo,

boa noite ao pai e à mãe,

recito um verso em silêncio,

beijo uma estrela, adormeço

(a pensar nos sapatinhos

que de manhã irei calçar,

pego no cajado, caminho...)

e sonho ir a Belém...

eu quero ir mais além!...
                                                                                         
                                                                                                        (aguarela de Ivone Martins)