terça-feira, 19 de junho de 2012

o inefável dia de um gesto


levanta-se
como qualquer mortal sentimento
e estica-se em frente
alonga-se e prolonga-se
no subtil movimento
de quem pretende acordar

muito ou pouco trabalhado?
horas a fio centradas
em instantes diáfanos.
os dedos tentativamente
se desenham em incríveis
piruetas de um bailado melífluo
circundando partículas de ar
que se sentem acariciadas

um gesto alimenta-se de pouco
ou do muito que o corpo
ou o sentido lhe transmitem

se é um gesto de pé ou de perna
sorrateiramente se insinua
e se cruz e descruza
entrelinhas, entre
as linhas
com que as sombras se cozem
com a parede ou com os cubos
da calçada

gesto de corpo
poema da alma em tarde lânguida
entre penumbras e
laranjas acetinados do sol
que sorrateiramente mergulha
enquanto o gesto subtil
se adentra na noite
que se adensa

à noite, o gesto vem só por si, com luz
ou sem ela, com lua
ou sem as estrelas do firmamento
que delicadamente colhera
para fazer um ramalhete
(daí um nobre gesto)
insinua-se pelas dobras
camaleão do escuro

só por si, só
por si se esvai e se evola...
fazendo juz ao seu nome,
num gesto de despedida
simplesmente... gesto

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