Não me lembro da tua escola, por lá andaste e te fizeste homem,
nem sei se te vi na minha escola
homem feito andavas vida fora.
No dia do meu exame
de uma quarta classe desenvolta,
assim o pretendia a professora,
não sei se espreitaste pela porta
(“eram contas de outro rosário”
assim dizias... “vamos,
há que ir trabalhar” ).
Com outros instrumentos, ferramentas,
construías lições, davas lições, e a pedra
que de mim recebia letras e números,
para ti era alicerce, parede, telhado.
O lápis atrás da orelha via longe,
os centímetros do metro eram mais
do que a minha régua podia imaginar.
Era outra a escola...
Certo dia bateste à porta e deste-me uma caneta de cores
que trouxeras da viagem,
da escola da distância.
Sem entrares na sala de aula me ensinaste
que um mundo tem mais cores e caminhos
que quantos um mapa pode deixar ler,
que as notas de música
também contam histórias,
que a escrita tem mais sentidos
que quantos eu pudesse imaginar.
Hoje dentro do meu mundo
tenho lápis, canetas e cores,
ferramentas preferidas do meu mundo,
desde o dia da oferta
da caneta que trouxeste de lá,
onde se aprende a vida.
Por isso te escrevo.
In: "mãos verdadeiras" - João S Martins, 2011
Pintura a óleo de Mateus Costa