quinta-feira, 4 de agosto de 2011

poema - raízes




Do formão fazes caneta,
da tábua, folha sedenta,
nasce do tronco um poema,
golpe a golpe, letra a letra,
que no fim soa a soneto.

Nos meus poemas limo arestas
usando esta madeira e estas mãos,
o tempo irá trazer a lume e dará cor
à voz macia que o poema encorpa;
da madeira-matéria escolho a forma
risco, desenho e deixo sossegar.
“Corto aqui, junto acolá”,
(como o meu pai diria
e fazia com as raízes)
 viro e reviro palavras e sentidos,
a todas quero dar o lugar certo;
estas estão mui longas, outras perto,
e para o verniz final estendo a pena.
Depois, em repouso o pensamento voa,
lê uma vez mais... relê, revive e toca,
dando às palavras a sua própria voz,
que outros lhe darão brilho final.

In: "mãos verdadeiras" - João S Martins, 2011- Esculturas de Eduardo Martins

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